
Giullia Buscaccio Vieira nasceu em Funchal, na Ilha da Madeira, mas desde cedo entendeu que o mundo cabia dentro de si. Filha do ex-jogador Júlio César Gouveia Vieira, cresceu entre culturas e idiomas. Viveu quatro anos na Coreia do Sul, onde descobriu a paixão pela atuação assistindo aos doramas que marcaram sua infância. Aos dez anos, mudou-se para o Brasil, onde encontrou na arte uma vocação que floresceu ainda na adolescência.
Fluente em coreano e dona de uma sensibilidade rara, iniciou sua carreira aos doze anos na série A Lei e o Crime. Na Globo, conquistou público e crítica em produções como I Love Paraisópolis, Velho Chico, Novo Mundo, Éramos Seis e Renascer. No streaming, revelou outra potência ao interpretar Tay em Arcanjo Renegado e, mais recentemente, Suzana Guerra em Os Donos do Jogo, personagem que se tornou um divisor de águas na sua trajetória. Hoje, alternando trabalhos na TV, cinema e plataformas digitais, Giullia vive uma fase de maturidade artística que confirma o que o público sempre viu: ela nasceu para isso.
Um fenômeno dentro e fora da tela
A repercussão de Os Donos do Jogo surpreendeu até quem acreditava profundamente na força da série.
“Eu estou impressionada. A gente acreditava muito no projeto, mas a repercussão está me surpreendendo. Não tem lugar que eu entre que alguém não repita alguma fala ou comente algo. A gente recebe muita mensagem diariamente. Está sendo muito legal ver o retorno do público.”
Suzana Guerra não apenas mudou a dinâmica da série como ampliou a percepção sobre quem é Giullia Buscaccio como artista. A personagem trouxe ao centro uma versão mais madura, segura e destemida da atriz.
Suzana Guerra: entender para não julgar
Antes de abraçar a personagem, Giullia precisou se despir de preconceitos e mergulhar em camadas mais profundas da narrativa.
“Quando eu li o texto, entendi que eu e a Suzana éramos muito diferentes. Eu julguei a personagem no início. Pensei, por que essa mulher está atrás desse cara? Eu sempre lutei pela minha independência. Sempre achei que poderia construir minha narrativa sem depender de uma figura masculina.”
A compreensão veio ao olhar para o contexto de Suzana: uma mulher tentando sobreviver em um espaço onde mulheres não existiam plenamente.
“Entendi que ela estava lutando pelo lugar dela. Era a forma que encontrou de existir em um ambiente extremamente machista. Ela é madura, inteligente e apaixonada. Havia amor, desejo e um projeto de vida ali. Quando entendi isso, o desafio mudou de figura. Ela deixou de ser um julgamento e virou uma potência para mim.”
A virada de carreira que chegou na hora certa
Giullia sabe que Suzana entrou como um marco em sua história, não apenas por visibilidade, mas por maturidade.
“Sinto que o público encontrou um trabalho mais maduro da Giullia. Eu estava pronta para a Suzana. Me mantive estudando, perseverante, vivendo um dia de cada vez. Tive personagens que me prepararam para ela. Quando chegou, eu estava pronta para recebê-la.”
A personagem exigiu coragem emocional e confrontou realidades duras sobre o lugar das mulheres.
“Ela vive uma realidade dura. Não pode assumir o que é dela simplesmente por ser mulher. É difícil de engolir. E foi muito bonito olhar para o lado e ver mulheres fortes como Juliana Paes, Dandara, Mel Maia. Elas são independentes, batalhadoras. A força do feminino aparece muito na série.”
O que Suzana ensinou a Giullia
Entre tantas camadas, uma delas ficou como aprendizado pessoal.
“Aprendi que nem sempre você precisa ganhar uma luta no grito. A Suzana engole muita coisa. Ela absorve, reflete e, lá na frente, leva a situação para onde quer com sabedoria. Ela é muito mental, articulada. Nada é impulsivo.”
O silêncio estratégico, a inteligência emocional e a capacidade de esperar viraram pontos de força na vida real.
“Nem sempre a força está no barulho. Às vezes, está no silêncio, na estratégia e na paciência.”
A cena da briga que tomou conta da internet
Um dos momentos mais comentados da série foi a briga explosiva entre Giullia e Mel Maia. O público se divertiu e se chocou, mas os bastidores mostram a preparação necessária para chegar naquele resultado.
“Essa cena foi muito divertida. Tivemos muitos ensaios para ficar segura fisicamente e confortável emocionalmente. Tinha aquele frio na barriga chegando perto do dia.”
A liberdade criativa fez toda a diferença.
“Os xingamentos surgiram na hora. A gente estava livre para usar as palavras que viessem. Teve palavrão que ela falou que eu não esperava e teve coisa que eu falei que também surpreendeu. Isso trouxe muita verdade para a cena.”
Assim que cortou, tudo se transformou.
“Quando acabou, a gente caiu na gargalhada. A equipe também. O maior desafio foi não rir durante a cena. Ficou intenso, real e divertido. A combinação perfeita.”
O recado para quem sonha voar alto
Depois de mais de uma década de trabalho contínuo, Giullia sabe que a essência de qualquer trajetória é a persistência.
“A mensagem que eu deixo é sobre acreditar. A internet faz parecer que tudo é rápido, mas existe uma caminhada longa por trás. Eu atuo desde os doze anos. Estudo muito. Trabalho meu corpo, minha voz, meu emocional. As pessoas não veem essa parte, mas ela existe.”
Para ela, o tempo não é inimigo. É mestre.
“Se você tem um sonho, siga. Busque informação. Tenha perseverança. Dá vontade de desistir às vezes, mas não desista. Acreditar e continuar é o que faz a diferença. A gente precisa amadurecer na profissão para estar pronto quando a oportunidade chegar.”
A nova era de Giullia Buscaccio
A trajetória de Giullia sempre foi marcada por movimento. Da Coreia do Sul ao Brasil, dos doramas às novelas, dos dramas às séries de ação, ela cresceu diante das câmeras e moldou sua sensibilidade no mundo.
Agora, com a explosão de Suzana Guerra e a força de um trabalho que conquistou o país, Giullia vive uma fase luminosa. Uma era de reconhecimento, profundidade e potência.
Mais do que uma atriz em ascensão, ela se confirma como uma artista completa, que mistura delicadeza, estratégia e coragem. Uma mulher que transforma silêncio em poder, vulnerabilidade em verdade e sonho em caminho.
E essa é, sem dúvida, a sua nova era.









