De cara limpa, com figurino, debochada ou refinada, com “r” arrastado e sem papas na língua, a paulista de , na qual riu de si mesma e, claro, nos arrancou boas risadas.
Da primeira participação no teatro, aos cinco anos, à estreia no Grupo Comédia ao Vivo, em 2005, como foi esse processo de perder timidez e se descobrir atriz/comediante? Eu era muito tímida, mas MUITO mesmo (risos). Sofria pra dar oi para as pessoas, me escondia atrás da minha mãe, morria de medo de chegar atrasada na escola e ter que entrar sozinha na sala de aula depois de todo mundo. Minha irmã, Fabiana, entrou no teatro e me convenceu a participar de uma peça. Ela era a Branca de Neve, e eu o Dunga, o único anão mudo. Em algum momento, me diverti no palco quando percebi a plateia rindo de mim. Fazer os outros darem risada me faz bem, e amo fazer comédia. Cada personagem nova é um desafio. E fazer stand up parece que foi o desafio maior, quase uma prova do líder do BBB. Entrar no palco, de cara limpa, sem figurino, sem personagem, e fazer a plateia rir, sendo você mesma, é bem assustador, mas muito prazeroso ao mesmo tempo. Preciso agradecer aos meus amigos que me incentivaram tanto: Danilo Gentili, Fábio Rabin, Diogo Portugal, Luiz França e ao meu padrinho de Stand Up, que infelizmente não está mais aqui, mas sinto que me dá força até hoje: o hilário Márcio Ribeiro. Obrigada!
Nesses 13 anos, você passou por algumas emissoras, como Sbt, Mtv, Band e Globo. Você diria que se sente mais à vontade fazendo humor na TV? Em que é diferente de fazer humor nos palcos, por exemplo? Amo os dois! Amo fazer comédia no teatro e no palco, porque a resposta da plateia é imediata. É uma delícia ter ataque de riso junto com o público e, às vezes, desconstruir o que tá ensaiado, sabe? E também amo fazer comédia na TV. Participei de projetos muito especiais, como o Furo MTV (jornal cômico que eu fazia junto com o Bento Ribeiro), Comédia MTV, participei do Pânico, CQC, e, hoje, posso dizer que acordo e vou trabalhar sorrindo para gravar o Zorra e a Escolinha do Professor Raimundo. Trabalho com o Luis Miranda, que é um dos meus ídolos da comédia nacional, e ter a oportunidade de pegar emprestada uma personagem tão engraçada como a dona Catifunda é quase como ganhar um Prêmio. Juro! Amo fazer a personagem, e o Chico Anysio era genial. Esse projeto me faz rir e me emociona de verdade. Me sinto privilegiada demais por poder fazer parte dessa homenagem para ele.
Nos últimos anos, o humor mudou bastante, surgiram novos nomes, e algumas formas de fazer rir passaram a ser questionadas. Qual sua opinião a respeito do novo momento do humor? Eu amo comédia! Assisto e, se eu der risada, acho bom. Não fico analisando se “esse é um humor inteligente”, se “aquele é debochado ou sei lá o que”. Tem que ser engraçado. Só! O que é bom dura muito. A prova disso é o remake da Escolinha do Professor Raimundo, que ficou no ar por tantos anos e agora voltou, de tanto que o público pedia. Humor de personagem, com bordão, para mim, pode ter pra sempre. Tô feliz demais participando de um programa tão divertido com tanta gente talentosa.
A mulher (especialmente a loira), por exemplo, sempre foi alvo de piada. Você alguma vez se sentiu inferiorizada ou desrespeitada? Nunca me senti desrespeitada por ser alvo de piada. Não me ofendo com piada. Adoro rir de mim mesma e fazer piada com o meu jeito, meu sotaque, a minha cidade, etc. A piada é uma brincadeira, não uma verdade absoluta. As pessoas falam muito de humor inteligente, mas, pra mim, acho inteligente ter bom humor.
“A piada é uma brincadeira, não uma verdade absoluta. As pessoas falam muito de humor inteligente, mas, pra mim, acho inteligente ter bom humor”.
Inclusive, você já chegou a comentar que mulher comediante não tem tanta credibilidade para ser engraçada, por conta das exigências sociais. Como assim? Não ter esse filtro já te atrapalhou alguma vez? Na minha opinião, os homens têm permissão social para falarem palavrão, podem arrotar, soltar pum. Quando um homem conta uma história engraçada do dia que ele foi a um puteiro, por exemplo, eu sentia que não tinha julgamento, sabe? Que as pessoas ouviam pensando “claro, é normal.” Agora, se uma mulher falasse “Outro dia eu tava dando prum cara”, às vezes, rolava uns olhares ou comentários como “gente, que louca!”. Como se a mulher tivesse se expondo demais e, pra mim, esse pensamento é absurdo. Conheço tantas mulheres hilárias e, por isso, comecei a fazer stand up com piadas sobre mulheres comediantes. Isso nunca me atrapalhou, pelo contrário. A maioria do público ri e se identifica comigo e com o que eu penso sobre esse olhar machista. Nunca entendi por que em alguns programas de humor tinham mulheres quase peladas. Não tem graça nenhuma.
Existem vários comediantes que respondem processos por envolver alguma figura pública em piadas ou tocar em assuntos espinhosos. Para você, até onde se trata de “invasão” e de exercício da liberdade de expressão? A maioria dos casos eu acho um exagero e uma ideia absurda você querer processar um comediante. Não é uma verdade absoluta, é uma piada. Uma brincadeira. Se não gostou, ou se ofendeu, super dá pra tentar reverter, entrando em contato com o comediante e entrando na brincadeira, sabe? Acho super engraçado quando a pessoa vai a um programa querendo direito de resposta porque foi alvo de uma piada. Ganha minha admiração quem não se leva a sério.
Como já falamos acima, na Globo, você participa de dois remakes: Zorra e Escolinha do Professor Raimundo. Como foi se envolver na nova fase de programas já tão consagrados? Uma alegria! Eu era criança quando assisti à Escolinha pela primeira vez. Minha personagem feminina preferida sempre foi a Dona Catifunda! Ela é autêntica, divertida, e tem uma mistura de sotaques que eu amo: o poRta (caipira) e também o RRoxo quase italiano da Moóca (risos). Amo! E o novo Zorra é um projeto maravilhoso! Contraceno com comediantes talentosos, como Welder Rodrigues, Rodrigo Santanna, Paulo Mathias JR, George Sauma, Maria Clara Gueiros, Débora Lamm, entre outros que adoro. As esquetes são divertidas, fazemos paródias musicais e todo dia temos um desafio delicioso ao interpretar personagens diferentes em situações hilárias.
É mais fácil fazer humor por trás de um personagem ou sendo você mesma? Existe diferença? Não sei responder essa. Tem alguns comediantes que interpretam personagens hilárias e, às vezes, o comediante é mais sério. Não é tão fervido, animado, engraçado. Mas
conheço vários que são engraçados como eles mesmos. Eu adoro fazer comédia de cara limpa, mas também adoro fazer personagem. Não sei qual é mais fácil. Bom, na verdade, nada na birosca dessa vida é fácil, né?
Já aconteceu de você estar de mau humor e não conseguir ser engraçada? Ah, vira e mexe tenho que trabalhar irritada ou de mau humor. Por sorte, acho que isso potencializa a comédia. E tudo fica absurdamente engraçado. Quando eu chego puta da vida pra contar alguma “desgraça” que aconteceu, sempre tem alguém que ri e fala “ai, faz um texto disso!”. A gente ri da desgraça alheia e rola uma identificação. Hum
or é uma terapia. A gente relaxa quando escuta que os outros “se ferram” também.
“Humor e amor curam”
Temos visto cada vez mais comediantes apresentando talk-shows. Você tem essa vontade? Tenho vontade de apresentar um programa de comédia, não um talk show. Sonho em fazer algo parecido com o Furo MTV. Tenho vários amigos engraçados e talentosos com quem quero trabalhar junto: Bento Ribeiro, Ricardo Benozzati. Também adoraria fazer um programa com o Porchat. Amo ele!
Falando nisso, tem algo que, como atriz, comediante ou roteirista, você ainda gostaria de realizar? Sim! Sonho em participar de um seriado de comédia estilo Friends, Cheers ou I Love Lucy. Esse ano participei de uma comédia romântica com o Fábio Porchat, filme que vai ser lançado no segundo semestre. Sou muito fã dele e desses filmes fofos que a Sandra Bullock faz, Jennifer Aniston também. Quero fazer mais filmes assim. Humor e amor nos salvam.
Texto: Lara Costa
Fotos: Vicente de Paulo
Coordenação: Flávia Brunetti
Direção: Vinicius Machado