JOHN DROPS – STRIKE A POSER

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Em cada uma daquelas postagens tem muita cuca no lance. Focado, determinado e apaixonado por moda, o soteropolitano de 25 anos construiu – com uma dose de planejamento, duas de criatividade e três de senso de oportunidade – uma das carreiras mais relevantes do universo cibernético nacional e, por que não dizer, internacional. Confira a entrevista exclusiva que o influencer concedeu ao nosso Publisher Vinicius Machado e descubra o quê que esse baiano tem.

Quando despertou em você esse desejo de trabalhar com internet?

Eu sempre fui popular no colégio e era aquele menino que tinha quatro perfis lotados no Orkut, fotolog famosinho. Então, na adolescência, eu conheci os blogs – que foram os primeiros influenciadores da internet – e criei um em 2007 chamado Drops Information, em que eu falava sobre fofocas de celebridades gringas. Eu pegava notícias do TMZ, traduzia para o português e fazia uma versão brasileira mais baianada. Esse blog chegou a ter 500 mil visualizações, mas ninguém sabia quem era eu, quem escrevia, porque no começo preferia não me expor, por medo de preconceito. Eu já ganhava uns dólares com esse hobby e, com a chegada do Twitter, enxerguei nele mais possibilidades quando percebi que já tinham pessoas fazendo tweet patrocinado. Eu gostei daquilo! Daí, quando terminei o colégio aos 18 anos e não sabia exatamente o que ia fazer da vida, pensei em moda, mas não achei o cenário favorável, então decidi fazer publicidade, por ter mais a ver com a área da comunicação, internet. Mais ou menos no quinto semestre pensei: gente, não é isso que eu quero fazer. Não quero trabalhar em agência sem ter hora para sair, sem ter a possibilidade de criar como eu achava que teria. Comecei a fazer cursos em comunicação digital, a estudar e, graças ao blog, que continuava, mas não com tanta frequência, fui chamado para trabalhar no meu primeiro estágio na área de internet, sendo social media de uma agência. Essa experiência me despertou outros feelings, como o de criar planejamento estratégico, analisar o que poderia funcionar, e passei a ver as redes sociais como um negócio. Minha primeira dúvida era: como algumas pessoas conseguiam bombar na internet e outras não?

Você conseguiu resposta para essa sua inquietação?

Existem alguns truques, mas ainda não tenho uma resposta sólida sobre isso. Eu me empenhei muito nesse trabalho e entendi que o lance era criar um conteúdo que chamasse atenção. Lembro que meu primeiro cliente nessa agência era da área jurídica e, quando comecei, ele tinha mil seguidores, e seis meses depois estava com 40 mil, sem precisar comprar nenhum.

Como surgiu o Jonh Drops?

Nessa época em que trabalhava na agência eu já tinha meu Instagram e, em 2014, assistindo à premiação de um red carpet, vi a Kim Kardashian usando um look que todos criticaram. Nesse momento veio uma reflexão sobre como a internet é uma terra de ninguém, que pode ser maravilhosa e cruel ao mesmo tempo. Na mesma hora vesti um tapete que tinha na minha sala de estar como se fosse o vestido da Kim, tirei uma foto, fiz uma montagem com a imagem dela ao lado e postei no Instagram. A Kendall Jenner curtiu minha postagem na mesma hora, e eu fui parar em vários tabloides americanos. A Camila Coutinho foi a primeira a postar essa foto, que viralizou, e eu comecei a ganhar seguidores. Depois de um tempo aconteceu o casamento da Preta Gil e, nele, a Anitta usou um vestido de fast fashion que os internautas massacraram. Fiquei pensando em como as pessoas criticam a própria realidade. A nossa realidade não é usar Chanel, é usar o que está a favor do nosso bolso. Então, eu fiz o look e postei novamente no Instagram, mais uma vez viralizou, alguns artistas passaram a me seguir, aí eu falei: “Opa! Alguma coisa tá acontecendo”. Nessa foto, eu tinha colocado minha marca d’água – que foi uma estratégia de comunicação – e cliquei na cozinha. Um tempo depois, fiz o look que a Jennifer Lopez usou em uma premiação, coloquei a mesma marca d’água e também fotografei na cozinha de novo, para que as pessoas remetessem à primeira foto e, assim, criei uma identidade para o John Drops. Comecei desenvolvendo esse pequeno conceito: na cozinha, o nome, o formato, a fórmula.

Quando percebeu que estava ficando sério e que você teria que mostrar quem era passando uma mensagem?

Tudo começou como uma brincadeira, mas havia esse viés crítico. Eu queria deixar isso mais verbalizado para que as pessoas não enxergassem como futilidade. Eu gosto da moda e de como ela conta a história do mundo, então percebi que precisava falar dela. Também comecei a entender que estava atingindo a um público muito diverso e que teria que comunicar a todos, mas minha prioridade era falar para quem não tinha muita informação. Um dia recebi uma mensagem de uma seguidora dizendo que havia descoberto o que era Chanel através de mim. Nem todo mundo entende o conteúdo de uma revista de moda, mas, se você triturar aquilo e explicar de uma forma mais dinâmica, dentro da realidade das pessoas, elas conseguiram entender.

Então o John Drops é um crítico bem humorado da moda?

Acredito que a moda esteja cansada dela mesma e, se ela está, imagina as pessoas que, durante anos, foram escravizadas pela ditadura de beleza e dos padrões. Isso está fazendo com que ela sinta a necessidade de se reinventar, seja buscando ser mais sustentável ou investindo em uma comunicação mais dinâmica – vide o caso das blogueiras. Percebemos isso quando descobrimos que a top model que chamou mais atenção na fashion week passada foi uma transexual, a Valentina. Os padrões estão mudando, cada pessoa quer ser quem é, ser diferente das outras. Eu fujo totalmente de qualquer padrão de beleza que a sociedade impõe e quero mostrar que você não precisa se encaixar nesse perfil para se sentir alguém. Eu me sinto muito empoderado por poder fazer isso.

 E em qual momento você percebeu que tava bombando?

Eu já tinha um relacionamento com a Mônica Salgado, viramos amigos,e no carnaval de 2016 fui convidado para ir para o camarote pela Glamour. Choveu gente vindo falar comigo, pedindo foto… Eu não entendi nada, porque, antes, para ser reconhecido pelo público, você tinha que fazer alguma novela, Big Brother, e eu não tinha nem passado pela TV. Engraçado que, para eu ir para a TV, tive primeiro que ter essa repercussão na rua. Hoje, você não precisa ir pra TV para ter uma mídia espontânea, e a internet me deu essa oportunidade. Foi ali que eu percebi que o John Drops tava surgindo e dando uma cara nova para o mercado digital.

Qual foi o momento mais difícil?

Quando comecei não me pagavam por aquilo. Estava ficando famosinho, mas, não ganhava dinheiro e não tinha mais tesão em trabalhar em agência. Queria fazer algo que amasse, então pedi demissão e fui morar com minha irmã que já vivia em São Paulo. Fiquei um mês lá tentando entender o mercado, alguns abriram portas para mim, outros fecharam. Agradeço a ambos, porque hoje eu sei que nesse meio existe o lado do bem e o do mal.

Qual foi o trabalho que mais te marcou?

Meu primeiro trabalho grande foi com a Trident, que fiz com Wesley Safadão, Flávia Pavanelli e Léo Picón. Eu tinha uns 400 mil seguidores na época e não sabia nada sobre medir alcance ou apresentar um projeto para um cliente, mas a dona da agência – a Ana Zambom, que é muito minha fã – acreditou em mim. Foi bom porque aprendi muito e pude colocar o John Drops em uma mídia totalmente diferente. Naquele momento percebi a proporção que meu trabalho poderia tomar e que eu poderia ser muito mais que um Instagram.

Rola uma ansiedade com o aumento da fama? Tipo, você está bombando na internet, mas precisa sempre se reinventar e inovar para se manter relevante. Isso te gera angústia?

O que me gera angústia é a inércia, porque eu não gosto de ficar parado, então estou pensando nos próximos passos. O que me deixa angustiado são as cobranças e expectativas que as pessoas depositam em você. Mas, como tudo começou com uma brincadeira, eu levo muito como um hobby. Eu sei que é um trabalho sério, mas não posso deixar a leveza morrer. Eu faço por amor e no dia que achar que não estou mais gostando não tenho problema nenhum em parar. A fama é gostosa. Existe vaidade, e eu sou escorpiano, né? Você ser reconhecido é bom e, hoje, graças a Deus, minha renda principal vem através da minha imagem. Consegui fazer o John Drops se consolidar não só no Instagram.

Qual a maior diferença do John Drops e do João Paulo?

Eu era uma pessoa jovem e imatura quando entrei no universo midiático, não conhecia nada da vida. O John Drops amadureceu muito o João Paulo, e ele foi criado para ser uma personagem que me protegesse. O John é extrovertido, gosta de balada, é minha versão drag queen. O João Paulo prefere filme com pipoca, é mais introspectivo. Às vezes eu me perdia, confundia as personas e não sabia qual usar, mas acho que encontrei a receita certa. Esse meio em que a gente vive é maravilhoso, mas tem que pisar devagar, porque é necessário consolidar a sua imagem o tempo todo.

Que horas você é João Paulo?

Quando estou em casa às 22h assistindo Netflix. Desligo o celular, fico vendo filme e comendo pipoca. Ou então quando estou com meus amigos, falando besteira e comendo cachorro-quente.

Aonde você quer chegar?

Estou projetando ir para o Youtube e também com planos para o offline. É bem aquela coisa de mãe: eu posso sair em vários sites internacionais, em várias matérias, mas se eu sair em um jornal de rua, impresso, dá aquela satisfação, porque aquilo ali vai ficar pra sempre.

Texto: Victória Costa
Foto: Daniel Aragão
Ilustração: Dan Mesquita

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