WALDEMAR IÓDICE E OS 30 ANOS DA MARCA

30 anos, 15 lojas físicas – entre próprias e franquias – e um e-commerce, sem falar na presença em mais de 350 multimarcas Brasil afora e nos incontáveis desfiles que marcaram o calendário da moda nacional. Os números, por si só, já nos revelam muito a respeito da trajetória da Iódice. Mas, curiosos que somos, quisemos saber mais. Quem nos conta, com o olhar orgulhoso do passado e otimista acerca do futuro, é Valdemar, fundador e Diretor Criativo que defende, acima de tudo, o mérito de um bom produto.

inVoga: Atualmente, você comanda a Iódice junto com sua mulher e seus filhos. O que a segunda geração, a exemplo do Alexandre, agregou de importante à marca?

Valdemar Iódice: Na realidade, cada um trabalha no seu setor. Eu, por exemplo, faço a Direção de Criação e, como cuido do desenvolvimento de produto, isso afeta a marca como um todo. Confesso que sou um pouco centralizador, mas procuro ouvir e estar sempre atento ao que acontece ao meu redor. Viajo bastante e busco estar informado, justamente para conseguir, durante uma reunião, acompanhar a cabeça dos jovens que trabalham comigo. Além de a visão deles agregar muito ao grupo, acredito que esse encontro de gerações é saudável para mim, para eles, para a Iódice.

Certa vez você comentou que suas roupas são para mulheres reais. Como assim?

A Mulher Iódice é urbana, moderna e sofisticada, características que fazem da nossa persona alguém real, que precisa, dentro desse lifestyle, de um guarda-roupas que a acompanhe em diferentes momentos. Já quando penso nas peças de um desfile de moda, por exemplo, me permito abstrair um pouco mais dessas ocasiões de uso, criando, como costumo dizer, para uma mulher ainda mais especial.

Hoje, tudo acontece ao mesmo tempo e agora. Na sua opinão, quais as vantagens e os desafios que esse boom digital trouxe para as empresas?

Com todas as possibilidades que a internet nos traz, mais do que nunca é preciso saber filtrar o que tem alinhamento ou não com o posicionamento da companhia. A Iódice tem o DNA muito forte, e eu acredito que se você fica preocupado apenas em colher informações externas corre um grande risco de perder identidade e, consequentemente, mercado. Esse, para mim, é um dos grandes desafios que o digital trouxe para as empresas, para os gestores, para o criativo…

Falando nisso, quais as principais mudanças que você observou no mercado nos últimos 30 anos? Como se manter atento a elas?

Acho que o coração de toda empresa de moda é o desenvolvimento de produto, então, você não pode se deixar influenciar com as intempéries. Política, futebol, economia… Muitos são os acontecimentos que ocorrem em paralelo, mas eles têm que ser deixados de lado para que possamos seguir firmes no propósito de criar roupas que deixem as mulheres mais belas. Se a marca tiver um produto bem feito, de qualidade, ele vai vender, pois sempre tem alguém comprando e alguém vendendo. Além do mais, costumo dizer que não crio roupas, crio desejos. Durante esses 30 anos, sempre procurei fazer o melhor desfile, estar perto de mulheres que valorizem a marca, investir em campanhas que comuniquem bem para esse target, estar em revistas com o perfil da Iódice. Acho que o sucesso da nossa trajetória está na união desses diversos fatores, que vão deu desde o desenvolvimento até a vitrine da loja, a campanha, a cor da etiqueta, a estampa, e assim por diante. Acredito muito em um ditado que diz mais ou menos assim: a água que corre por cima de um leito de um rio muda, mas o leito não. Ou seja: olhando para trás, para as minhas coleções, alguns desses detalhes podem ter mudado, mas o DNA não.

Esse, aliás, é o segredo para manter um negócio tão bem sucedido ao longo de tantos anos?

Um dos, eu diria. Mas tem vários! Outro é gostar muito do que você faz, se dedicar muito, ter parceiros – desde os profissionais que estão a seu lado, que gostam da marca, aos fornecedores de matéria-prima, aviamentos, até as costureiras -, que têm prazer em fazer. O dinheiro é importante, faz parte, mas não é o primordial.

Você conseguiria destacar os três momentos mais marcantes da trajetória da Iódice até aqui, sendo um de cada década?

Alguns desfiles marcaram muito a minha trajetória. Um deles foi o primeiro da marca, quando ainda não existia Morumbi Fashion, São Paulo Fashion Week. Na época, fiz um desfile em um estúdio de cinema chamado Adrelina, perto do Ibirapuera. Depois disso, vieram vários outros, como o Baile de Máscaras, que teve uma decoração toda de salão de baile, com lustres feitos com lâmpadas usadas em máquinas de costura, entre outros detalhes riquíssimos de cenografia.Teve também o Blow Up, que tinha um espelho em diagonal no final da passarela, o Jardim Encantado… Antes, a gente fazia projeto de cenário, e os desfiles eram muito ricos em cenários e valores, mas isso foi mudando com o passar dos anos. O último, em celebração aos 30 anos, foi mais simples nesse aspecto, embora não menos marcante. Ele aconteceu no Palácio Tangará, hotel recém-inaugurado em São Paulo. Como o tema da coleção foi Tropical Art, fizemos o desfile na parte externa, num terraço cuja vista dá para o Parque Burle Marx. Além dessas apresentações, tiveram outros momentos especiais também, como a abertura da loja na Oscar Freire, um projeto de três andares, com pé-direito duplo, que poderia perfeitamente estar na 5ª Avenida.

E o que podemos esperar da Iódice até 2030, hein? Valdemar Iódice: Acho que a gente tem que falar um pouco de Brasil, né?

A Iódice tem sempre vontade de crescer, de estar no mercado, porém, as coisas não acontecem bem assim. Atualmente, o país anda meio instável, as pessoas estão com dificuldade de investir aqui, mas nós somos brasileiros e temos que acreditar. Espero estar com bastante saúde para tocar o negócio e vê-lo prosperar cada vez mais. Fortaleza, por exemplo, é uma cidade pela qual tenho bastante carinho. Temos várias lojas que representam a marca aí, como Lugage, Dona Classic, além de parceiros em Iguatu, Juazeiro, Sobral.

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