CHIARA GADALETA CONSTRÓI NOVA ERA FASHION

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Quando se fala em moda sustentável, Chiara Gadaleta é uma das autoridades máximas no Brasil. Vanguardista, há uma década a ex-modelo, stylist e apresentadora, iniciou um debate sobre o tema que hoje se tornou o trend topic do mercado fashion. Para amplificar seus ideais, Chiara criou o ECOERA, um guarda-chuva para o movimento, portal, prêmio e consultoria para empresas que procura levar o país para um futuro mais consciente e ecofriendly. 

Antes de moda sustentável e consumo consciente se tornarem “tendências”, você já abordava essas questões. O que abriu seus olhos para essa cadeia e, consequentemente, para trabalhar com o tema? 

Sempre considerei a moda um retrato fiel de uma época. Em 2008, comecei um questionamento de que a moda tinha entrado em um descompasso com seu tempo. Sentia que o planeta e a sociedade gritavam por socorro, e o mercado, a indústria da moda, que sempre foi minha paixão, não estava alinhada com essa urgência. Comecei, então, a pesquisar e dedicar meu trabalho em busca de uma moda que represente os nossos tempos de sustentabilidade ambiental e social. 

A Tarântula foi o start desse pensamento? 

Acredito que a Tarântula foi uma espécie de embrião para chegar ao ECOERA. Se a minha marca, que se preocupava com o reuso de tecidos, ainda gerava uma quantidade de lixo, comecei a ficar angustiada imaginando o cenário das grandes empresas. Naquela época, tudo o que sobrava conseguia transformar em outra coisa. Mas isso é muito pouco perto da dimensão das indústrias de moda, beleza e tantas outras. Procurei me informar sobre os mercados fora do país, como na Alemanha, e vi que já estavam lidando com o impacto ambiental de outra forma. Pensei que eu poderia usar minha experiência e minha influência para falar sobre sustentabilidade na moda, para me tornar uma porta-voz desse movimento. 

Como surgiu o movimento ECOERA? 

O Movimento ECOERA surgiu com a missão de integrar esses mercados a questões sociais e ambientais por meio de um conjunto de atividades, práticas e ações que aproximassem toda a cadeia produtiva dessas áreas à sustentabilidade ambiental, social, econômica e cultural. Em 2011, criamos a primeira semana de moda sustentável no Brasil. Quatro anos depois, criamos o Prêmio ECOERA, que coloca luz nas práticas de impacto positivo de empresas nas áreas de moda, beleza e design em quesitos de sustentabilidade, e está em sua quarta edição. 

Como funciona o portal? De que forma ele impacta outros negócios? 

É a primeira plataforma online a reunir conteúdo e serviços sustentáveis do Brasil. Em paralelo, funcionamos como uma consultoria para companhias. Analisamos toda a cadeia de valor de uma empresa, desde a produção ou plantio da matéria-prima, até o descarte do produto pelo consumidor final. Essa análise gera um relatório com indicadores de sustentabilidade em que apontamos oportunidades de práticas, iniciativas e parcerias para que a empresa comece sua jornada de impacto positivo e se torne um agente de mudança em seu setor de atuação. 

Uma produção de moda consciente vai além da escolha de materiais. Como ser e se manter, enquanto empresa que preza pela sustentabilidade? 

A sustentabilidade precisa fazer parte da governança de uma empresa – não importa o tamanho dela, o que conta é fazer da sustentabilidade uma missão e um valor. Após esse passo inicial, o próximo é fazer conhecer de perto a cadeia de produção, com um rastreamento aprofundado de todas as etapas, materiais, processos e fornecedores. Dessa forma, a empresa poderá entender suas questões sociais e ambientais, e, então, estabelecer melhorias, começar práticas mais conscientes e até estabelecer metas de redução. 

Comparado a outros países, em que pé está esse movimento de conscientização no Brasil e como as empresas estão absorvendo esse novo discurso? 

Somos muito ágeis, rápidos e atentos às mudanças. O desenvolvimento do Movimento ECOERA é um excelente termômetro. Trabalhamos muito para provocar engajamento e mostrar, através de práticas, como os mercados de moda, beleza e design poderiam chegar mais perto da sustentabilidade. Hoje, o assunto virou moda. 

Um momento muito importante para provocar questionamentos, mas também um momento delicado, pois não podemos tratar as questões sociais e ambientais como uma tendência! Ao longo desses quatro últimos anos com o Prêmio ECOERA, mais de 300 empresas se cadastraram. Nessa quarta edição, foram 129 empresas que abriram suas agendas para falar de uso de água, energia, materiais de baixo impacto, comércio justo e tantas outras questões. Esse número mostra como as empresas estão se preocupando e buscando soluções. 

Como você avalia o futuro da moda, principalmente da fast fashion, do see now buy now? 

Para nós do ECOERA, o futuro é agora, já! As marcas de fast fashion estão bem empenhadas em fazer parte dessa mudança. Cada uma delas tem encontrado uma forma de se conectar com uma moda mais justa e ligada ao meio ambiente. O momento é perfeito, pois, na outra ponta, o consumidor está cada vez mais exigente e consciente da importância de suas escolhas. 

boom de brechós mostra que os consumidores estão buscando formas alternativas de compra. Qual o papel desses negócios na discussão de compra consciente? 

Existem dois pontos muito importantes nesse debate: o primeiro é a formalização desses negócios, e o segundo é de fato transformar a prática do reuso, do reaproveitamento em uma nova forma de economia complementar. Nos últimos anos, o mercado de brechós cresceu enormemente, e isso se dá, principalmente, pelo baixo custo inicial das operações e de investimento. O desafio do mercado da moda é fazer com que as peças usadas sejam vistas com o mesmo valor das novas. Quando usamos peças vintage, estamos promovendo não apenas uma moda mais consciente, como também estamos olhando para questões de qualidade e acabamento. Se não tomarmos cuidado com a qualidade da produção das peças hoje em dia, não vamos ter peças em brechós em uma década. 

Armário cápsula, brechós, upcycling, moda autoral, peças com matérias primas e produções sustentáveis são campos que a sustentabilidade na indústria fashion abrange. Mas como você avalia a viabilidade de incluir e popularizar esses termos na prática diária do consumidor? 

De forma geral, as pessoas estão mais engajadas com a questão do meio ambiente e da sustentabilidade, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Não vamos trocar todas as idas aos fast fashions por brechós ou marcas que usam o upcycling, produzem peças customizadas. E também não vamos usar apenas camisetas de algodão orgânico de uma hora para outra. O que está acontecendo, e é incrível, é que temos a oportunidade de fazer parte dessa mudança de comportamento. É uma fase de transição, e cada um de nós pode e deve fazer parte dessa nova forma de ver, pensar e consumir moda.   

Qual a sensação de levar esse impacto positivo e uma nova perspectiva sobre o consumo para a vida das pessoas? Novos projetos virão? 

Eu comecei essa jornada há 11 anos e hoje fico muito, muito contente em ver cada vez mais marcas com atributos sustentáveis. Agora precisamos ser criteriosos e não deixar que a preocupação com as pessoas e com o planeta seja apenas uma tendência. A missão do ECOERA era de ser uma ponte entre a sustentabilidade e os mercados de moda, design e beleza. Hoje, depois de uma década, estamos criando ferramentas de mudanças nos negócios, como compensação de dióxido de carbono e cálculo de pegada hídrica na indústria têxtil. 

Avante, ECOERA! 

As empresas interessadas devem se inscrever através de um link dentro do Portal ECOERA e responder a um questionário de avaliação que mede as boas práticas, divididas em três fases: pré-consumo, consumo e pós-consumo. Ainda são analisadas de acordo com a sua atuação e impacto em quatro categorias: PLANETA, pontuação que avalia práticas relacionadas ao meio ambiente; PESSOAS, para as ações relacionadas aos trabalhadores e comunidades locais; GÊNERO, categoria que avalia empresas que concentram esforços para avançar em igualdade de gênero e empoderamento das mulheres; e, por fim, o ECOERA, que abrange os três itens de forma geral. 

Chiara dá o bizu para você consumir de forma consciente: 

– Se for uma roupa, ter certeza de que a peça que vai adquirir pode ser combinada com outras que você já tem; 

– Ser cada vez mais curioso e pesquisar a origem das peças que você está comprando; 

– Ver qual é a relação da marca do produto que você está comprando com as questões sociais e ambientais. Isso é fácil, é só pesquisar no site da marca e ver seu engajamento nas mídias sociais; 

– Optar por marcas que usem embalagens conscientes e que promovam o consumo consciente através de sua comunicação e que indiquem uma destinação correta das peças quando terminam suas vidas úteis; 

– Buscar peças de qualidade, que durem mais e que não serão descartadas de forma prematura e sem lugar correto; 

 

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