CAROL CELICO E ENZO CELULARI SÃO “UM POR TODOS E TODOS POR UM”

Em uma primeira olhada, Carol Celico e Enzo Celulari parecem ter pouco em comum, fora as infinitas possibilidades que o berço privilegiado proporcionou aos dois. Mas, conhecendo um tantinho mais profundamente a história de cada um, e cruzando essas informações, nos surpreendemos ao saber que, além do amor pela música que eles compartilham, ambos souberam usar a fama e a visibilidade que possuem para escrever uma história diferente não apenas para suas vidas, mas para a vida de muita gente. Tocados pelo desejo de fazer o bem desde a infância e idealizadores de projetos de responsabilidade social voltados para o terceiro setor – ela com a Amor Horizontal e ele com a Dadivar – Carol e Enzo aprenderam desde cedo que dividir para multiplicar era uma equação não tão fácil de ser resolvida, mas que eles topavam o desafio. 

Enzo Celulari, como o próprio sobrenome já entrega, nasceu e cresceu sob os holofotes. Discreto, como se pudesse passar despercebido com tamanha beleza e carisma, o rapaz desafiou a máxima “filho de peixe, peixinho é” e escolheu seguir seu próprio caminho profissional. Mesmo sem optar pela dramaturgia, como os pais Claudia Raia e Edson Celulari, foi com a dupla que ele aprendeu que outra máxima – fazer o bem sem olhar a quem – seria seu destino e, hoje, através do Instituto Dadivar, ele usa seu poder de influenciar (e o de vários artistas) para dar continuidade a uma corrente de solidariedade que começou quando ele ainda era criança. 

“A pressão em ser artista naturalmente me acompanhou, afinal, sou filho de dois atores, a arte corre nas minhas veias, e era esperado que eu seguisse os passos deles. Por um tempo pensei em estudar música, uma das minhas paixões, mas percebi que, por mais que eu amasse, precisaria de um propósito maior para aquilo que eu escolhesse como profissão. Queria gerar um impacto social com o meu trabalho e encontrei isso através do terceiro setor. Sempre quis fazer o bem de alguma forma, e isso foi muito estimulado dentro da minha casa. Desde pequeno, meus pais me levavam a instituições, nós fazíamos doações, mas fui percebendo que, além dos bens materiais que eu tinha possibilidade de doar, o maior benefício que eu poderia dar àquelas pessoas era o meu tempo. Eu passava o dia brincando com crianças que viviam em situações bem diferentes da minha e, naquele momento, nós éramos iguais.

Eu adorava estar ali, conhecendo as histórias, trocando experiências e acho que isso foi o que me fez desejar trabalhar com o social e, junto aos meus sócios – Danilo Tiesel e Lucas Fox, iniciar a Dadivar. Eu observava pessoas com poder de influência muitas vezes não apoiando nenhuma iniciativa social ou, quando sim, era uma atuação discreta, individual. Mas nós acreditamos que cada pessoa tem uma causa pela qual se identifica de verdade e que gostaria de apoiar, então nossa missão é identificar a causa desse influenciador – seja ator, cantor, celebridade – e fazer com que ele dê visibilidade a esse movimento. E foi assim que a Dadivar nasceu: identificando a causa de grandes artistas e fazendo com que cada um deles apadrinhe a ação em que acredita, usando suas vozes para mobilizar o público fã e transformando essa campanha de arrecadação coletiva real. Além disso, hoje nós temos um conjunto de iniciativas que desenvolve projetos de tecnologia e presta consultoria para empresas sem fins lucrativos na área de responsabilidade social.

Empreender no terceiro setor no Brasil não é fácil, até porque ainda existem muitas ressalvas em relação à credibilidade dos projetos sociais, e muitas pessoas ainda ficam com o pé atrás, mas é essencial que a gente consiga criar um elo não só com empresas do segundo setor, mas conquiste, através dessas estratégias, um público cativo. Eu não consigo sentir outra coisa a não ser gratidão por ter conseguido, junto com meus sócios, trabalhar nesse projeto no meu dia a dia e ver que algo em prol de um bem maior, do bem coletivo, está funcionando na prática e mudando a vida de tantas pessoas.” 

A homenagem concedida à Carol Celico pelo Brazil Foundation 2018 no baile de gala da premiação foi a confirmação de algo que já sabíamos: ela e sua Fundação Amor Horizontal estão fazendo a diferença no mundo. A filantropa, que encontrou dentro de si quando ainda era criança o desejo de ajudar a quem, diferente dela, não enxergava tantas perspectivas de um futuro melhor, acredita que só com a horizontalização das oportunidade, através do amor ao próximo e da geração de um cenário que seja justo e favorável a todos, conseguiremos diminuir a discrepância social e fortalecer o trabalho do terceiro setor.

“Eu sempre acreditei que a vocação para o trabalho filantrópico vem em nós, a gente nasce com ela e, uma vez que você se envolve com o terceiro setor, é quase impossível parar de atuar nele. A vontade de promover ações de responsabilidade social foi despertada em mim já na minha infância, porque a educação que meus pais e minha escola me deram fizeram com que, desde muito cedo, eu tivesse a consciência de que poderia ajudar outras pessoas por meio daquilo que eu tinha. Tanto a filantropia quanto a fé te fazem olhar menos para si e mais para o outro – e isso para mim é atitude. É fazer algo que não seja só para si, com coerência e consistência. Foi daí que surgiu a ideia da Fundação Amor Horizontal, da crença de que nunca será possível ter um amor na vertical se você não amar horizontalmente o seu próximo. Lá, nós possuímos uma plataforma 360° que une três frentes: o doador – pessoa física ou jurídica -, as ONGs assistidas, que são escolhidas por uma triagem e possuem o selo da fundação, e as necessidades individuais de cada uma delas. A partir disso, buscamos organizar um circuito redondo e transparente que entende a demanda, viabiliza a compra dos produtos necessários com a ajuda dos parceiros, direciona as doações e ainda consegue mostrar ao doador nos mínimos detalhes para onde sua doação está indo.

Assim, além de intermediarmos as doações de pessoas que também querem fazer o bem, ainda nos preocupamos em promover ao doador um retorno sobre o destino daquilo que foi doado e, dessa forma, fazer com que elas se sintam seguras, pois percebem que efetivamente estão ajudando e conhecendo vários projetos lindos que existem. Qualquer pessoa ou empresa pode acessar o site, doar a partir de R$10,00, apadrinhar uma das 56 ONGs que apoiamos e ajudar uma das 12 mil crianças que assistimos com material de saúde, material educacional, material de higiene e tudo que engloba o seu bem-estar. Me sinto muito privilegiada de poder trabalhar com o terceiro setor por meio da Amor Horizontal e de fazer parte de um projeto que dá suporte a outras instituições, por isso, a homenagem que recebi no Brazil Foundation foi uma honra.

É muito importante, principalmente para alguém que trabalha com o terceiro setor de forma 100% voluntária, como eu, receber esse reconhecimento. A gente começa achando que não vai fazer a diferença, então ter esse retorno de ‘estamos vendo o que você está fazendo’ é a confirmação que estamos atingindo as pessoas e nosso objetivo – e isso me deixa realizada. Então, se você pode, seja com sua visibilidade, com sua voz, com o que você possui, fortalecer essa atitude e usar isso em prol de quem precisa, faça.”

 TEXTO: VICTÓRIA COSTA
FOTO: IAGO ALENCAR E GABRIEL SAMPAIO
AGRADECIMENTOS: LAMPIÃO FILMES

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