JU FERRAZ – BAIANA QUE TRANSFORMOU SÃO PAULO

 

Sobre ser uma mulher protagonista da sua vida, a baiana Ju Ferraz é craque antes mesmo de esse tema vir à tona tão forte como nos dias atuais. A jornalista, que atua como uma máquina de conectar pessoas e realizar sonhos, já passou pelo site Glamurama – onde construiu um nome em nove anos de atuação como comercial – assessorias de Ivete Sangalo, Cláudia Leitte e, hoje, escreve de próprio punho um história de vida cada vez mais independente. Sem medo de ser feliz e de se renovar, Ju abriu as portas da sua casa (e de seu coração) ao nosso publisher Vinicius Machado para um bate-papo sincerão sobre passado, presente e futuro. 

Você é baiana, formada em jornalismo e trabalhou durante nove anos no Glamurama. Como foi essa mudança da Bahia para São Paulo e esse encontro com a Joyce Pascowitch? A Bahia era muito bacana, mas eu queria mais. A Bahia é linda, é forte, é viva. Ela é tão especial, que nos deixa na zona de conforto. Eu queria ser uma mulher culta, com conhecimento de mundo, sonhava em viajar, mas não sabia como isso ia acontecer. Aos 20 anos, eu perdi meu pai. Nós éramos uma família muito rica e depois ficamos pobres. O sonho da minha vida era estudar em São Paulo, e quando ele morreu não tive condições de estudar e fui trabalhar. Sempre com alma, com corpo, com mente, inteira. Um dia, vi a Joyce Pascowitch em Salvador, tomando sol, e disse que era fã de seu trabalho e queria trabalhar com ela. Depois de um tempo, fui morar em São Paulo e em uma terça-feira chuvosa, Joyce me liga e me chama para ir até o escritório, quando ela me entrevistou durante uma hora e meia e me chamou para trabalhar com ela. E, assim, cheguei ao Glamurama como assistente da Joyce. Não perguntei o que ia fazer, quanto ia ganhar, mas eu sabia que aquela mulher ia mudar minha vida. Ela foi uma grande faculdade, uma grande mestra. Me deu a possibilidade de conhecer o mundo inteiro. Ela acreditou em mim. 

 

Chegar a São Paulo como uma nordestina para trabalhar em um veículo de comunicação foi um choque? Como foi esse começo? Sofri muito para chegar até aqui. Eu sofria bullying por ser nordestina, por falar de uma forma diferente, por não ter roupa da moda. São Paulo pedia uma linguagem mais corporativa, uma roupa mais sóbria, um cabelo mais cortado, e eu só andava cheia de estampas. Uma hora eu entendi que tinha que deixar um pouco de ser regional para ser mais cosmopolita, mas nunca perdendo minha essência. Saí da minha terra e fui para outra completamente diferente onde não tinha nenhum vínculo, mas aí aprendi que ou a gente é de verdade ou não consegue nada, porque é a verdade que nos leva para a frente. Fui construindo relações baseadas em verdade e cuidando delas. 

 

Qual foi a maior dificuldade que você viveu durante esses anos de carreira? A maior dificuldade foi entender quem eu era e que tudo é passageiro. Eu tinha acesso a tudo e a todos – devo a Joyce por ter me inserido na sociedade – mas eu não sabia quem eu era. Se eu gostava de estampado ou de usar preto, se tinha que usar uma bolsa Hermès ou se podia comprar na Zara. Quando saí do Glamurama, levei três meses para entender quem era Juliana Ferraz. Fui fazer um processo de coaching e terapia. Fiquei 10 anos da minha vida naquela casa, então, quando saí, me peguei pensando em quem eu era. 

 

Durante nove anos você trabalhou para o Glamurama e, sem dúvida, foi um período engrandecedor para sua vida profissional. Como foi tomada a decisão de sair? O que foi levado em conta? Você queria expandir? Experimentar? Eu passei três anos me preparando para isso. O Glamurama me deu régua e compasso, mas precisava experimentar, ter minha identidade, ver novos mundos e aprender com outras pessoas. Sou muito grata por tudo o que vivi, mas a verdade é que um profissional de comunicação precisa “beber de diferentes fontes” para se sentir completo e ter uma visão completa de mundo. 

 

Hoje, olhando para trás e avaliando a sua trajetória até aqui, qual a importância dessas relações profissionais e como as construiu? É o seguinte: primeiro você conhece as pessoas, constrói histórias com elas e, só depois, passa a ter credibilidade e começam a acreditar em você. Hoje, muitos dos meus amigos são os meus clientes. Meu casamento teve 678 convidados, eram pessoas que tinham me dado força em algum momento… Saí da Bahia sem dinheiro e com um bebê. Tive que ser safa, entender os códigos, mas sempre respeitando os outros e sendo humilde, senão estava fora do game. Relações líquidas é o que mais me incomoda. Não tem verdade, não tem raiz. Mas temos que lembrar que um dia se tem tudo e outro dia não tem nada. 

 

Quando você descobriu que tinha se tornado a Ju Ferraz, que tem seus seguidores e que inspira as pessoas? Eu demorei para aceitar isso, porque eu achava que o brilho não era meu, era do outro. Uma coisa é você ter algo seu, eu trabalhei em outros lugares para ser conhecida. Quando você sai do papel de funcionária para ser empreendedora e gestora da própria vida é preciso muitos anos de análise. Carol Guimarães dizia que eu era uma influenciadora, que eu precisava ter um site, e eu respondia que eu era uma diretora comercial. Mas depois eu resolvi aceitar que eu tinha voz e que eu ia me diferenciar dos outros por sempre falar a verdade. ‘Sim, eu tenho compulsão alimentar. Eu choro quando busco meu filho na escola porque eu não tenho tempo para isso. Eu tenho um marido que precisa de atenção. Sim, eu não tenho uma vida perfeita’. Não dá para acreditar que vivemos em um castelo cor de rosa. 

 

Desde o Glamurama, mas, principalmente hoje, você é uma vendedora. O que representa a venda para você? E o que você nunca faz quando está vendendo?  Sabe o que é vender, para mim? É realizar o sonho do outro. Quando eu fiz um trabalho de cenografia no Rock in Rio, eu tornei realidade aquilo que o dono do espaço sonhou, e virou o stand mais bonito do festival. Aquilo representa muito para mim, porque eu sonhei também, realizei e fiz parte de um processo bacana. O que eu não faço quando estou vendendo? Eu não minto. Já cheguei à mesa de negociação e falei que não tinha gostado do projeto. Falando como uma pessoa que entende, eu não posso omitir minha técnica, minha experiência e minha visão do que vai dar e do que não vai dar certo. Dinheiro é energia. Ele vai vir se você fizer o bem, construir relações sólidas, fizer o que promete. O vendedor só tem a palavra. Não importa o que venda, se você se queimar, você nunca mais vai bater na porta daquele cliente. 

 

E quanto ao Nordeste, qual o papel da região, hoje, na mídia, na comunicação? A gente tem que ser a gente. O Nordeste tem uma força que só ele tem. Tem uma série de qualidades, carinhos e afeições. Não estou falando só de Salvador, Aracaju, Maceió, Fortaleza, é o Nordeste todo. A gente abre a casa, a gente convida, a gente faz! Precisamos nos empoderar e mostrar para o resto do Brasil o que a gente faz. É se respeitar, se impor e acreditar. Vamos pedir licença para chegar, mas chegando diferente. Com autenticidade e humildade. 

 

Existe uma tendência cada vez maior das empresas de se preocuparem com regionalização e entenderem as nuances de cada região do Brasil antes de atuar. Como você avalia essa tendência? Para mim, isso nunca foi tendência. Sempre foi verdade. Não sei se é porque saí da Bahia, mas, cada região tem suas características, histórias e seu comportamento de consumo. Bobo é aquele que não entende isso e perde oportunidades que, às vezes, não se encaixam em São Paulo, mas que têm tudo a ver com Fortaleza, entende? É aquela velha frase “respeite a minha história” (risos). 

 

Você é baiana, e é muito bacana ver profissionais de outros estados se consolidando no mercado nacional. Afinal, o quê que a Baiana Ju Ferraz tem? Não tenho segredo. Tenho muita força de vontade, muitos sonhos, um filho para preparar para esse mundo que muda sem parar. Chegar até aqui foi – e é – uma luta diária de determinação, força, alegrias, tristezas e muitos ensinamentos. Querer é poder! 

 

E o futuro, a Deus pertence ou você já começou a traçá-lo? Quais os próximos planos e passos? Vou fechar meu primeiro cliente carreira solo. Fechei um ciclo de dois anos e meio na M Checon, e agora estou sentindo o gosto da liberdade de andar com as próprias pernas. Não sei ainda do futuro, mas sei que tenho estado e me juntado com pessoas que pensam e acreditam nas mesmas coisas que eu. Com fé nos meus orixás e em Deus, vem muita coisa boa por aí. 

por Vinicius Machado
foto Fabrício Assis
make Israel Escobar
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