FORÇA DE UM MENINO MESTRE

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O céu pleno de paz das terras alencarinas não cansa de ser berço para as vozes que cantam o Ceará pelos palcos da vida. E ele não poderia estar mais orgulhoso daquele filho que se fez um dos maiores expoentes contemporâneos do nosso som, Marcos Lessa. O cantor, que nasceu entre o mar e o sertão, ecoou seu tom grave, penetrante e envolvente Brasil afora e completou 10 anos de uma carreira que mais parece sina que escolha. Herdando do pai músico e da mãe poetisa a paixão pela arte, Marcos se prepara para lançar seu terceiro disco, intitulado Sal, e clicou para a inVoga em um dos cenários mais icônicos do patrimônio artístico (e arquitetônico) cearense – e também o primeiro palco onde pisou: o Teatro José de Alencar.

Você em 2017 fez dez anos de carreira e costuma dizer que sua história com a música começou na barriga da sua mãe, além de vir de uma família muito musical. Mas quando você se percebeu apaixonado por esse universo? Conta um pouco dessa iniciação. Sempre tive a impressão, desde muito pequeno, que eu tinha o dever de ser músico. Como uma missão. Sério mesmo. Talvez por saber desde que eu me entendo por gente que meu pai era conhecido por ser um cara musical, uma linda voz, hábil no violoncelo, baixo acústico, flauta transversal e flautas andinas. Com uma família de tios seresteiros, minha mãe uma poetisa, escritora, linda voz, fazia canções de ninar próprias para cada filho, enfim. Fui gerido numa família musical. Daí aos 10 anos papai comprou pra mim um tecladinho, e eu comecei a estudar teoria musical. Poucos anos depois comecei a compor, lá pelos 13 anos, e quando vi, aos 17, tava cantando.

 

Quando você entendeu que essa relação íntima com a música havia se tornado profissão? Houve algum momento específico de “ops, sou cantor” ou foi um caminho natural? Foi um caminho muito natural, com um começo recebendo muito apoio dos amigos que tinha e tenho do meio cultural, da família, enfim. Eu queria era aparecer, subir no palco e exibir minha voz (risos). Me metia em tudo: festivais, aniversário dos meus familiares e assim aprendendo da parte técnica e profissional da história toda. Esse “ops, sou cantor” eu me deparo a cada vez que eu canto, sabe? Sinceramente, ainda é uma prazerosa surpresa cada fã, cada show, cada pessoa cantando ou pedindo para eu cantar uma canção que eu já gravei… É muito emocionante para mim.

“SEMPRE TIVE A IMPRESSÃO, DESDE MUITO PEQUENO, QUE EU TINHA O DEVER DE SER MÚSICO.”

Além da Elis Regina, que foi sua primeira referência musical, em quais outros cantores você buscou inspiração para desenvolver sua formação artística? Naqueles primeiros anos de descoberta foi quase que integralmente Elis, sabe? Claro que eu ouvia e sempre me interessei muito pelo universo musical brasileiro: Ivan Lins, Gonzaguinha, Tom Jobim, Milton Nascimento, Gil, Caetano, Caymmi, Djavan um tempo depois, Luiz Gonzaga, Marinês… Depois uma paixão avassaladora pelo Elvis Presley, o que me inspirou a começar a cantar grave e, na sequência e até hoje, meu professor: Sinatra!

Em 2013, você foi um dos destaques no programa The Voice Brasil, onde chegou à semifinal. Qual a importância do reality para a sua carreira? Ele impulsionou seu reconhecimento na cena nacional? Olha, hoje eu posso dizer que foi uma coisa mágica. Uma benção de Deus. Levou meu nome, minha cara, minha voz para os 4 cantos do Brasil e do mundo através da Globo Internacional. Chamou a atenção de uma boa parcela de gente para o trabalho que estou fazendo – que sonho desde aqueles anos que só cantava para as 4 paredes do meu quarto na casa dos meus pais. De repente estava ao vivo em rede nacional cantando MPB, o povo torcendo por mim, e a festa a cada volta ao Ceará. Tenho muita gratidão. Foi muito importante para fazer meu trabalho chegar ao patamar que está chegando hoje.

 

Seu primeiro disco de trabalho foi Entre o Mar e o Sertão, de 2014; logo depois veio Estradas: um tributo a Gonzaguinha, de 2015; e esse ano o DVD Sal, só de músicas inéditas, tomou corpo e foi lançado. Como foi a realização deste projeto mais autoral e o que ele representa nestes 10 anos de carreira? O Sal é o presente que estou dando para mim e para essas pessoas que acompanham e torcem pelo meu trabalho. O presente pelos 10 anos de estradas entre o mar e o sertão. (Risos) Finalmente um trabalho quase todo autoral. O lançamento dele em abril do próximo ano vai marcar um novo momento do meu trabalho. Um Marcos Lessa mais jovem, finalmente chegando com um som pra geração dele, de vinte e poucos anos, mas sempre prezando pela qualidade. Aguardem!

“DE REPENTE ESTAVA AO VIVO EM REDE NACIONAL CANTANDO MPB”

Esse ano também houve sua estreia na teledramaturgia global, e a música Moa, inspirada nos rios do estado do Acre, fez parte da trilha sonora da novela A Força do Querer. Como foi ter uma canção de sua autoria e interpretação em uma novela das oito? Uma grande alegria. Sinal de que o trabalho não é um trabalho tão somente regional, e sim nacional. Uma canção que fiz para homenagear o Acre, o rio Moa e meus queridos amigos de lá sendo reconhecida por diretores cariocas. Fiquei muito feliz.

Há mais de dois anos, todos os sábados ao meio dia, você apresenta o programa de rádio Vamos Lessa (na Beach Park FM), no qual abre espaço não só para clássicos da MPB como para a música cearense. Como é estar difundindo a música que você acredita em um dos meios de propagação mais tradicionais? É exatamente isso! O Vamo Lessa é, na rádio, uma continuação do trabalho que faço nos palcos: levantar a moral e a bandeira da MPB, fazer o povo conhecer ou relembrar canções que não estão mais aí tão na praça, mas continuam lindas e atualíssimas. E o resultado comprova que não estou doido, pois é um dos programas de maior audiência na rádio, e sou muito grato à direção da Rádio Beach Park por esse espaço, por acreditarem nessa empreitada. Faço o que amo!

Como você avalia essa nova safra da música brasileira e cearense – da qual faz parte – que constrói uma cena artística cada vez mais independente, descentralizada e rica em novos estilos musicais? O Ceará tá bombando! (Risos) Morei um ano e meio no Rio, entre o ano passado e esse. Foi uma experiência boa, de conhecer meus ídolos e tal, mas tô amando morar em Fortaleza, minha terra natal, porque a coisa aqui está fervilhando, e é bonito demais de ver. Muita gente jovem fazendo um trabalho de primeira, construindo carreira, lançando disco, querendo chegar com coisas novas. Tenho gostado de quase tudo que tenho visto, me aproximando e querendo estar perto também.

“O CEARÁ TÁ BOMBANDO! TÔ AMANDO MORAR EM FORTALEZA, MINHA TERRA NATAL, PORQUE A COISA AQUI ESTÁ FERVILHANDO, E É BONITO DEMAIS DE VER.”

Falando em estilo, você claramente é um cara estiloso, e os chapéus são sua marca registrada. Mas como é a sua relação com a moda? Você gosta? É algo com que, de fato, se preocupa? O Levi Castelo Branco (cantor cearense) foi a primeira pessoa que me despertou para prestar mais atenção nisso. Antes era um pouco alheio e usava mais o chapéu mesmo. Na época da Globo, a equipe de figurino sugeriu a ideia de usar sempre blazer, e eu aderi. Percebo que tenho ousado mais, fazendo sobreposições com camisas mais cavadas. Passei dois anos sem usar chapéu, e agora, que estou com um trabalho maravilhoso sendo feito pela chapeleira Jomara Cid – que dispensa comentários, pois é a melhor do Brasil -, voltei com tudo!

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