Ela já esteve nas maiores revistas do mundo, como Vogue Itália, Glamour, e foi capa
da Playboy brasileira – a primeira modelo plus size a estampar a edição em 40 anos de história no Brasil. O mundo fashion brasileiro demorou, mas deu seu merecido lugar à Fluvia Lacerda, que usa seu espaço, sua voz e suas curvas para quebrar paradigmas e espalhar um discurso de aceitação entre as mulheres.
Se buscarmos pelo significado de empoderar-se, é possível que ao lado apareça o nome Fluvia Lacerda. Afinal, o verbo se refere a conceder poder para si ou para outros – e é exatamente isto que a modelo de 37 anos faz. Fluvia transborda amor próprio, dissemina autoaceitação e utiliza sua imagem – e voz – para influenciar outras mulheres a se libertarem dos padrões, especialmente os estéticos.
Sua grande arma, hoje, são as redes sociais. Com quase 300 mil seguidores, a carioca, que se considera nortista por ter passado a maior parte da vida em Roraima, compartilha cliques onde aparece de biquínis, lingerie e, até, nudes. “A realidade que as redes sociais trouxeram, apesar do desequilíbrio – que tem em todos os setores -, abriu portas para muitas influências positivas”, afirma. Fluvia enxerga as mídias como uma ferramenta de mudança de todo um mercado, inclusive do que ela está inserida: a moda.
A modelo começou a carreira nos Estados Unidos, em 2003, após ser descoberta por uma editora de revista de moda. No exterior, o mercado plus size é maior do que o brasileiro e, apesar de ainda precisar de ajustes, de acordo com Fluvia, é comum entrar em uma loja internacional e encontrar a mesma peça de roupa em diversos tamanhos. “O mercado plus size brasileiro está engatinhando, como todo processo de evolução de qualquer mercado. Mas eu enxergo um progresso. A gente foi de zero a muitas marcas”. Ao abordar gordofobia, ela utiliza essa segmentação como exemplo. “Tento buscar o direito das mulheres de se vestirem como elas querem, que elas se descubram e as suas preferências. Não dá para ignorar: existe uma grande força em se vestir do jeito que você quer”. Já sobre aquelas regrinhas ditadas por profissionais da área fashion, de que os corpos devem se adaptar às roupas e aos estilos, ela considera algo ultrapassado. “Essa é mais uma maneira de aprisionar as mulheres dentro do padrão considerado ideal, de magras e altas. Gente, eu sou gorda, tenho espelho em casa. Não tem isso de que tal roupa vai alongar ou afinar. Você precisa é se conhecer e entender a melhor forma de expressar quem você é através de como se veste. Isso é moda”, reflete com leveza.
Mas ainda é necessária muita luta para ultrapassar os desafios. “Hoje, estamos dando continuação às batalhas travadas pelas nossas ancestrais. Esse despertar coletivo, essa conscientização que estamos vivendo como mulheres é óbvia e espalhada por todo o mundo graças às redes sociais”. Apesar de fã da internet, ela admite que as mudanças só virão quando o ativismo se voltar para o mundo real. “O discurso é importante, mas muito mais necessário é você incorporar a realidade que você quer e se impor de uma forma para que outras gerações de mulheres te assistam e consigam se inspirar nas suas atitudes para que elas também tomem força”, afirma.
Por isso, lançou, recentemente, o livro Gorda Não é Palavrão, uma autobiografia onde busca desmistificar o termo e utilizá-lo como uma ferramenta de aceitação. “Já havia a proposta de escrever um livro, mas eu não sabia para que lado eu iria me direcionar. Através do contato mais próximo com os seguidores, eu comecei a sentir uma necessidade de falar sobre o assunto de autoimagem”. Na obra, conta sobre sua trajetória e declarações que auxiliam mulheres no alcance do amor-próprio e a exibir com orgulho suas formas e personalidades. “O livro veio para suprir a minha vontade de compartilhar minha forma de ver e lidar com a vida, aparência, preconceito, gordofobia e diversidade”, finaliza.