FABIANA MILAZZO CELEBRA SUA ESTRÉIA NAS PASSARELAS INTERNACIONAIS COM MODA SUSTENTÁVEL

Moda

“Vida” é o nome da primeira coleção que Fabiana Milazzo apresentou na Los Angeles Fashion Week no dia 9 de outubro. Sendo a natureza a forma de representá-la, a designer aprofundou-se em pesquisas sobre sustentabilidade, propiciando uma coleção repleta de tecidos orgânicos, tingimentos naturais, ecoprints e reciclagem. Este último, baseado no upcycling, com peças do projeto autoral Renovarte.

“Não havia nada mais adequado do que chamar de ‘Vida’ uma coleção que está preocupada com a vida do planeta.”, contou a estilista.

O desfile contou com a presença da atriz Bia Arantes “Adorei a coleção, as peças são lindas. Além disso, é importante ressaltar a importância das peças sustentáveis para o meio ambiente, ver através de um desfile o levantamento dessa questão é muito bacana. Foi um olhar muito humano e cidadão da Fabiana, nós precisamos nos conscientizar cada vez mais”

Bia Arantes, Fabiana Milazzo, atriz Adelaine Kane e a influencer Layla Monteiro

 

A designer respondeu algumas perguntinhas pra gente sobre esse novo caminho que a moda está entrando e o que podemos esperar daqui pra frente:

1 – A questão da sustentabilidade tem sido bastante discutida dentro do mercado de moda, principalmente nos últimos anos. Como você enxerga essa transição do comportamento, tanto mercadológico quanto do consumidor, que estamos vivendo?

Eu estou muito feliz com essa preocupação, isso vai fazer com que seja mais fácil de encontrar os fornecedores, a gente ainda é carente, mas essa é uma procura que já faço há cinco anos, sempre quando eu consigo, eu sempre incluo artigos sustentáveis na coleção. Eu até criei um tecido que é feito através de um reaproveitamento de materiais que é um projeto que eu criei que se chama Renovarte, e onde durante uns três ou quatro anos, eu fui juntando todos os retalhos e não descartando coisas, pensando num futuro em refazer e fazer isso virar um tecido. Isso é uma técnica nossa e eu já apresentei isso no SPFW passado, mas eu vou apresentar aqui em LA com tecidos novos, novas texturas, novas cores, novos materiais e isso está presente continuamente nas minhas coleções. E tem o aspecto dos fornecedores que eu consegui agora algodão orgânico para sarja e para malha, para seda orgânica que continuo trabalhando, tingimentos naturais feitos da casca da cebola ou do mate, de várias plantas. Tem um tecido, por exemplo, na coleção que é da folha da catuaba. Outro tecido que estamos usando também, de uma empresa austríaca, a única que trabalha com o processo 100% sustentável. Outra coisa incrível é nossa estampa que é feita da própria folha, como por exemplo, a folha da goiabeira. Eu conheci o Luciano Pinheiro, um químico da USP, e juntos estamos fazendo esse trabalho que é desenvolvido com a própria planta que transfere os seus pigmentos para o tecido. São várias novidades sustentáveis.

2 – Sua brand compreende essa tendência e vem buscando desenvolver as coleções seguindo esse movimento de consciência ambiental. Como você despertou para ela e quais são os principais desafios na prática?

Isso foi uma coisa que eu sempre me liguei, eu sou uma pessoa muito ligada na natureza, eu sou uma pessoa que precisa de natureza para ficar bem. Todo final de semana estou no meu sítio, na cachoeira. Eu sou uma pessoa muito ligada à terra, à arvore, à plantas, a rio, a mar. E talvez isso tenha me feito desde nova me preocupar em conservar o meio ambiente, com várias medidas que qualquer um pode fazer no dia a dia, desde levar sua própria sacola no supermercado, a reciclar seu lixo, a tentar colocar isso dentro da minha própria empresa. Eu já faço isso há muito anos, eu inclusive já ganhei um prêmio nacional de sustentabilidade, o EcoPet, quando eu fiz há alguns anos atrás uma coleção com peças que eram feitas de com tecidos 70% de algodão descartado pelas fabricas, então era feito desse reaproveitamento desse descarte e 30% de PET. Existem matérias que eu consigo substituir, mas existem outros que não. Ainda é matéria prima que não tenho a disposição tudo que eu gostaria. Existem certos matérias que são impossíveis de se encontrar, mas eu acredito que quanto mais procura por esse produtos, quanto os mais os consumidores começarem a procurar é uma corrente, se as pessoas começarem se preocupar e querer é logico que a pessoa que produz a roupa vai começar a fazer e nós procurando os fornecedores, eles vão aparecer. É assim que a coisa vai começar a funcionar.
Outra coisa me despertou para essa consciência ambiental foi quando eu assisti ao True Cost, um documentário incrível, me fez parar para pensar que eu não deveria fazer isso esporadicamente, eu deveria criar processos e foi quando eu pensei em criar o projeto Renovart para que pelo eu fizesse a minha parte. Eu sei que ainda causo impacto negativo como empresa e ser humano, mas tentar minimizar isso o máximo que eu conseguir, é essa minha intenção.

3 – Pudemos observar as influências eco-friendly, tanto nos materiais quanto na essência da sua última coleção, intitulada Vida e apresentada na Los Angeles Fashion Week. Como foi a experiência do desfile e a receptividade do público?

Esse desfile superou minhas expectativas. Jamais imaginei que teria uma sala com 500 pessoas em meu primeiro desfile internacional. Estou muito feliz e grata com a receptividade.

4 – Como foi o processo criativo dessa coleção? Inspiração, referências, dificuldades?

Foi muito legal fazer essa coleção, justamente por isso, a coleção se chama Vida porque é inspirada na natureza. E para mim trabalhar com cores que são naturais, com plantas, tanto da estampa que veio próprio das folhas quanto dos ramos, também com os plissados que remetiam a essas folhagens que a gente desenvolveu, os bordados novos que criei aproveitando retalhos de tecidos com paetê reciclado. Foi desafiante fazer porque eu tive que fazer muita pesquisa, procurar incansavelmente fornecedores que se adequassem ao meu tipo de produto, inventar técnicas novas e até para calçados com sola biodegradável. Então foi coleção extremamente desafiadora, mas que eu estou completamente apaixonada por ela, eu dei o meu melhor.

5 – Dentro do DNA da brand está o bordado, o handmade e a sofisticação. Como é alinhar esses universos às características de uma moda essencialmente sustentáveis? O que podemos esperar das próximas coleções? Essa tendência vai permanecer na identidade da marca?

Pretendo sim, é uma coisa que comecei a fazer já há algum tempo e que no SPFW já apresentei, e nessa coleção agora já consegui aumentar ainda mais. A minha intenção é aumentar cada vez mais o número de produtos sustentáveis, hoje eu consigo ter 30% mais ou menos da coleção, a minha intenção é a cada coleção aumentar a quantidade. Você precisa de qualidade, de inovação, de exclusividade, de sofisticação, isso tudo para ter um produto de luxo. E novo luxo, além de tudo isso, tem que ter um produto feito com responsabilidade, tem que ter um algo mais no processo, tanto na responsabilidade com os envolvidos no desenvolvimento quanto na própria matéria prima que você usa. O luxo também precisa ser mais consciente.

SOBRE A COLEÇÃO

Nos tecidos, opções naturais e eco-friendly de fornecedores brasileiros com processos de produção sustentáveis: tecidos de fibra de liocel e modal que foram desenvolvidos com o fio austríaco Lenzing Modal®, com tecnologia EDELWEISS. É a única fibra carbon neutral no mundo, produzida apenas com oxigênio nos processos químicos e com menor consumo de energias fósseis. Fios de seda e ráfia 100% orgânicos – e com tingimentos naturais – vindos da tecelagem artesanal O Casulo Feliz, de Maringá (PR), que trabalha com casulos danificados de fábricas de seda local. A ráfia, inclusive, é feita do resíduo da seda, em um processo sem desperdícios. E também algodão 100% orgânico, vindo da cooperativa Justa Trama, do Rio Grande do Sul, que incentiva a econômica solidária e o fair trade com plantio e colheita manuais.

Na estamparia, técnicas inovadoras de texturas naturais através da parceria com o químico e designer Luciano Pinheiro. Por meio do projeto “Mulheres Caiçaras”, no litoral de São Paulo, ele desenvolveu ecoprints exclusivas feitas com tingimento natural de folhas de goiaba, eucalipto, chorona, aroeira e mordentes naturais, que foram aplicadas sobre algodão e organza de seda orgânicos.

Nos tecidos orgânicos, a cartela de cores vem de tingimentos naturais, como os terrosos, vindos da cebola, castanhas e café; os esverdeados, do mate e da hortelã, e a folha da catuaba, garantindo um tom amadeirado. Há ainda tecidos metalizados em tons de azul, prata e lilás, um desenvolvido na Itália com aspecto líquido, e também tecidos com plissagens exclusivas, lembrando folhagens, e os tons vibrantes de roxo e laranja.

Outra novidade fica por conta do bordado handmade característico da marca, que agora vem com paetês recicláveis, retalhos de tecido, ráfia e pedrarias para um bordado inovador e o mais sustentável possível.

Para os acessórios, sapatos de salto de couro de linguado, robalo e tilápia, fornecidos pela associação de mulheres Ryo & Mar, de Guaratuba, litoral do Paraná, que utilizam resíduos orgânicos que seriam descartados, apenas de peixes naturais da região. Um projeto que fomenta preservação aliada à geração de trabalho e renda. Solados de material biodegradável, sem cromo e metal, curtidos no tanino.

A coleção investiga e explora diversos shapes, visando as várias facetas da mulher contemporânea. Estudos de godê, camadas, franzidos, assimetrias, decotes, moulages intuitivas que propõe novos volumes aliados às silhuetas, ora próximas ao corpo, com cinturas marcadas, ora amplas, com trapézios, comprimentos longos, curtos e midi. Peças para tapete vermelho ganham grande destaque nesta temporada, e a cidade de Los Angeles e o lifestyle da californiana, se tornam o fio condutor para o pret-à-proter.

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