Isabella Santoni transforma inquietação criativa em liberdade nos palcos e bastidores

Isabella Santoni atravessa uma fase de expansão na carreira. Seus papéis recentes dão a medida de sua vitalidade em cena: foi Viviane na série “Dom”, do Prime Video, marcou presença em “A Divisão”, do Globoplay, e assumiu com força o protagonismo em “O Cravo e a Rosa”, interpretando Catarina diante de plateias lotadas. Mas a inquietação criativa que a move não se esgota na atuação. Cada novo personagem se soma a um desejo maior: ocupar também o espaço das decisões, compreender engrenagens e participar da criação coletiva que sustenta o espetáculo. Esse movimento não substitui a atriz, apenas amplia o território que ela percorre.

O teatro sempre me manteve muito próxima da produção. Diferentemente do cinema ou da televisão, no palco o ator se vê envolvido em praticamente tudo o que faz o espetáculo acontecer. Tive a oportunidade de experimentar isso com uma certa intensidade. Um exemplo foi a parceria com a Brasil Cap, quando participei de reuniões voltadas à captação de recursos para a peça, e foi um gesto que trouxe ainda mais consistência e segurança ao projeto. Essas experiências, no conjunto, acabaram ampliando meu olhar sobre o processo artístico como um todo”, conta. 

Rio2C, maior encontro de criatividade e inovação da América Latina, foi um ponto marcante nesse processo. O evento reúne artistas, produtores, roteiristas, executivos e pesquisadores para debater novas formas de financiamento, o impacto da inteligência artificial e a diversidade de narrativas. A cada novo ano, os debates seguem atuais e, mais do que isso, dialogam diretamente com o momento que a atriz vive hoje: o de ampliar seu olhar para além do palco e das câmeras. 

“Em eventos de criatividade, como no próprio Rio 2C, sinto que fui provocada a pensar para além da atuação em frente às câmeras e a me interessar por outros papéis nos bastidores, como produção, financiamento, até o próprio roteiro. No fim das contas, tudo isso me ajudou a enxergar a arte de forma mais ampla. Sou atriz, sempre será a minha paixão, mas passei a me envolver também com o processo como um todo, entendendo e participando de cada etapa que dá vida ao espetáculo”, acrescenta.

Em maio deste ano, veio a experiência em Cannes, laboratório em outra escala. O Festival de Cinema da Riviera Francesa é conhecido pelo glamour do tapete vermelho, mas seu coração é o mercado internacional: reuniões, negociações de direitos, pactos de coprodução. Isabella circulou por esse ambiente não apenas como celebridade convidada, mas como alguém atento a todo o modus operandi até o filme chegar ao público. 

O Rio2C, hoje a maior feira de criatividade da América Latina, já mostra como as produções internacionais e interculturais estão cada vez mais conectadas, inclusive na forma como os projetos são financiados. Viver o cinema em Cannes ampliou ainda mais essa percepção. Foi ali que pude entender melhor como funciona a indústria, do patrocínio privado ao financiamento público. Um exemplo interessante é o próprio ‘Agente Secreto’, que contou com incentivo francês. Lembro que uma das produtoras, a Liana Vila Nova, que conheci justamente nesse contexto, me falou sobre esse cruzamento entre países e modelos de financiamento. Tudo isso revela como o cinema é, ao mesmo tempo, profundamente local e inevitavelmente global. Essas experiências me fizeram enxergar a criação artística de modo mais amplo: não apenas pela interpretação, mas também pela compreensão do tecido de colaborações, apoios e investimentos que tornam possível a realização de um filme”, explica a atriz. 

O resultado é uma virada de perspectiva: a fronteira entre o corpo em cena e o corpo que organiza a cena deixa de ser uma barreira, dando lugar a uma artista completa, interessada em apostar na construção coletiva. É um gesto de maturidade, mas também de liberdade criativa, que ela, inclusive, vem exercitando como produtora por trás de um projeto ainda mantido sob sigilo. Santoni completa: “Eu sempre gostei muito de empreender, isso é algo que me move desde 2017, 2018, quando criei meu primeiro projeto de ONG. Sempre tive essa inquietação empreendedora, que me levou a experimentar diferentes áreas da produção: desde abrir uma marca de moda praia, dirigir uma ONG, até chegar ao que faço hoje, com direção criativa e publicidade, especialmente nas campanhas e no marketing que desenvolvo nas minhas redes. Tenho projetos de cursos e, principalmente, o desejo de me dedicar à produção de uma série ou de algum veículo maior, capaz de viabilizar histórias que eu realmente queira contar. Esse envolvimento me desperta ainda mais interesse pela cena em si. Estudar o roteiro, entender a engrenagem completa da narrativa, não apenas a personagem… Acho que é isso que me move artisticamente hoje: poder transitar entre a interpretação e ter essa visão mais ampla do processo criativo, que junta arte, produção e empreendimento.

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