O ar ‘cool girl’ que Antonia Morais carrega certamente vem da sua alma de artista que, de tão intensa, transborda em tudo que faz: em seus projetos profissionais, lifestyle e na forma que se expressa… em tudo é nítido o quanto ela tem a falar para o mundo. E é isso que importa: reverberar o impacto que suas experiências de vida a proporcionaram, tornando-a cada vez mais fiel a si mesma e ao que acredita. “Número não é sucesso, sucesso é se sentir realizado em qualquer forma de expressão, seja na moda, na arte, na música. É sobre ser fiel a si, é isso que faz você ser e fazer diferente, causar impacto e fazer a diferença no mundo sendo único.” A inspiração de “Luzia 20.20” veio durante uma viagem para o Pantanal, em Mato Grosso, enquanto gravava “Lavando a Alma”, programa no qual Antonia comandou, viajando pelo Brasil apresentando pelo viés místico a poderosa conexão com a natureza que nós podemos – ou deveríamos ter. “As paisagens me inspiraram a compor sobre o nosso país, e essa necessidade que já me era familiar. Em ‘Milagros’ eu fui pra outro lugar, compondo inglês, era tudo distorcido. Nesse álbum, eu queria cantar em português e, falando do Brasil, voltar pra minha raiz, pra minha essência. Algo mais melódico, trazendo instrumentos que tragam uma musicalidade brasileira… como a bossa nova, mpb, samba. Fazer uma homenagem a essas referências, esses sons, à nossa ancestralidade e música.” Um manifesto sensível de feminilidade e ancestralidade potencializadas em mais uma faceta de Antonia, que parece descobrir-se e desabrochar com o tempo cada vez maior ou, como ela mesma definiu: múltipla!
Confira a entrevista completa abaixo:
INVOGA: O que te inspira? Você tem algum processo criativo ou assume algum tipo de “persona” em cada projeto?
AM: Depende muito do que estou vivendo, da fase da minha vida. O movimento da vida me inspira muito. Eu não sigo uma linha de raciocínio só. Eu faço uma ‘colagem’ no meu cérebro. Eu crio uma persona com situações que eu queria ter vivido; que eu vivi e estou vivendo… junto com inspirações. Com coisas que vi, movimentos internos e externos. Eu junto tudo isso e transformo isso num som, letra, imagem, estética, na forma de vestir, comportar, falar, por atitudes. Num personagem, um conceito, sabe? Não é algo linear, não tem um método. São coisas que surgem de uma necessidade de expressão. Os meus dois projetos, “Milagros” e “Luzia 20.20”, tiveram um espaço grande entre um o outro justamente por isso: porque eu precisei que eles surgissem de uma necessidade. Eu não tenho obrigação de fazer música, eu sou uma artista livre, independente. Faço música porque quero, gosto, para me sentir feliz. Eu faço para me sentir feliz, antes de qualquer coisa. É importante pra mim que surja de uma real necessidade de expressão, algo visceral e profundo. Eu fiz “Milagros” aos 19 anos e é um som ‘sujo’, violento, underground, poluído. Isso foi proposital porque eu queria que aquilo transparecesse o momento que eu estava passando, colocar pra fora. Depois que eu fiz esse projeto, demorou um tempo pra entender qual seria minha nova linguagem, uma forma de expressar meus sentimentos de uma forma mais madura. Uma nova linguagem foi encontrada agora, aos 28 anos. Novos sons foram descobertos, uma nova poesia, uma nova forma de se falar. Muita coisa aconteceu dentro desse tempo. Mas precisei amadurecer para isso. Mas tudo vem de uma necessidade de se expressar.
INVOGA: Você também compõe? Toca instrumentos? De que formas exercita toda a musicalidade que habita em você? Suas letras são autorais?
AM: Eu produzo música no computador. Componho com sintetizador às vezes, teclado, piano é onde gosto de compor melodias, onde me sinto confortável. Minhas letras e composições são todas minhas!
INVOGA: Por ser filha de grandes artistas, você atrela seu dom artístico a seus pais, como foi viver nessa ambiência artística? Você atrela seu dom artístico à sua família?
AM: Eu cresci com um estúdio em casa. Então tive acesso a um backstage da música: como ela era feita, pensada, criada desde muito cedo. Eu respirava isso, então, você ter isso dentro de casa, você acaba participando desse processo todo. E a criança tem a possibilidade de escolha de participar ou não disso! Meu pai nunca me obrigou a participar de nada, mas eu queria. Foi algo que sempre despertou minha curiosidade. É um universo muito familiar pra mim, estar no estúdio é um lugar de conforto!
INVOGA: Como foi o processo de criação de ‘Luzia’? Ela é um alter ego?
AM: Então, Luzia 2020 é muito mais que um álbum, é um conceito visual que está ligado ao sensorial, a estética. Uma coisa completa a outra. A ordem do álbum está foi muito pensada para que quem escutasse o álbum absorvesse todo esse conteúdo por completo. Quando comecei a compor o álbum, estava em Pantanal, no Mato Grosso. Estava fazendo “Lavando a Alma’, imersa na natureza. As paisagens me inspiraram a compor sobre o nosso país, e essa necessidade que já me era familiar. Em “Milagros” eu fui pra outro lugar, compondo inglês, era tudo distorcido. Nesse álbum, eu queria cantar em português e falando do Brasil, voltando pra minha raiz, pra minha essência. Algo mais melódico, trazendo instrumentos que tragam uma musicalidade brasileira… como a bossa nova, mpb, samba. Fazer uma homenagem a essas referências, esses sons, à nossa ancestralidade e música. Foi quando a Bárbara Ohana, que produziu o álbum, comentou que eu deveria seguir com poesias mais fáceis das pessoas se identificarem pois eu estava com poesias muito ‘cabeçudas’. Eu precisava produzir algo mais cotidiano, mais fácil. Aí escrevi ‘Manhãs’.
Eu amo o nome Luzia… é um nome feminino e significa muita coisa: emitir luz no passado. Alguém que emitia luz. Foi o nome dado para o primeiro fóssil encontrado na América do Sul, supostamente, de uma mulher. Ele foi queimado no Museu Nacional mas conseguiram recuperá-lo e isso fala muito, é muito simbólico. É a nossa ancestralidade, o fogo não é só destruição. Uma coisa meio fênix que renasce das cinzas. Resolvi colocar o número do ano no álbum, 2020, pois nunca havia visto alguém fazer isso e senti que havia uma simbologia no número e no ano que viveríamos! Foi um ano de mudanças, desafios. Eu gosto da simbologia e da ancestralidade de Luzia e o futurismo, o contraste, contradição que ambas as coisas tem quanto ao tempo. É uma mistura de coisas.
INVOGA: Você falou que se inspira pela natureza, ancestralidade, o feminino. Como você busca exercer e se posicionar quanto a essas questões, socialmente falando? Como você busca se posicionar quanto ao que te inspira?
AM: O feminino e o feminismo cresceram dentro de mim muito naturalmente através da minha arte. Por exemplo, “Milagros” é um nome feminino e eu escolhi esse nome pro meu álbum porque eu queria que todos os álbuns tivessem nome de mulheres, assim como “Luzia”. E ele foi um álbum feito por mulheres. No set, do dia da capa, era um time de mulheres no estúdio. É muito interessante isso. O feminismo vem trazendo essa consciência pra gente. Eu amo os homens e eles são maravilhosos, nada contra eles. Mas… como é bom trabalhar com mulheres! Eu amo, é maravilhoso. A intuição, o olhar, o dom e uma sensibilidade que, muitas vezes, os homens não têm. Trabalhar com mulheres é um sonho, é algo que tento priorizar na minha vida. Isso é uma consciência que o feminismo trouxe. É legal não só falar disso em casa mas trazer para a realidade e prática no seu trabalho. Quanto ao meio ambiente, é extremamente importante realizar o turismo consciente, ecológico. Eu me preocupo bastante, e sou apaixonada pela natureza e tento trazer isso pela música, pela minha arte. Sinto que é uma conexão ancestral.
INVOGA: Para você, aonde a música, moda e o teatro se encontram? Qual o elo entre os três? Qual o elo entre a música, a moda e o teatro?
AM: No palco! (Risos). Eu acho que elas se encontram na autenticidade. Não tem regra, certo ou errado… entende? Temos que ser fiéis ao que sentimos e à nossa felicidade real. Todas as vezes que eu fiz coisas que me deixaram felizes, eu não estava nem aí para o que estavam pensando… mesmo sendo criticada ou não! Isso é o sucesso: quando você está feliz e realizado com que você está fazendo. Você pode estar num palco fazendo um show pra cinco pessoas mas se você estiver feliz, você está tendo sucesso. Eu conheço muitas pessoas que fazem shows para muitas pessoas mas não estão fazendo a música que querem cantar, usando roupa que querem vestir, porque elas têm que ser um produto. Isso é uma ilusão! Número não é sucesso, sucesso é se sentir realizado em qualquer forma de expressão, seja na moda, na arte, na música. É sobre ser fiel a si, é isso que faz você ser e fazer diferente, causar impacto e fazer a diferença no mundo sendo único.
Mas sucesso para mim é quando você está feliz e realizado com que você está fazendo. Você pode estar num palco fazendo um show pra cinco pessoas mas se você estiver feliz, você está tendo sucesso.
INVOGA: Durante o processo de produção do disco, músicas… qual sua parte favorita e qual a mais desafiadora?
AM: Minha parte preferida é criar, escrever, compor, estar no estúdio. A parte mais desafiadora é o pós! É tentar fazer com que as pessoas entendam o que significa pra você. As pessoas não estão dentro de você e você tem que fazer com que elas entendam o que você quis dizer.
Não é difícil mas é desafiador. Desafios são bons! Faz parte.
INVOGA: Inclusive, você apagou todas as fotos do perfil para lançar esse novo projeto. Qual estratégia por trás disso?
AM: Eu já estava querendo apagar minhas fotos há um tempo… Elas estavam me cansando. Eu tenho Instagram há tanto tempo! Sabe quando você cansa do seu passado, quer limpar tudo e começar tudo de novo? Ali, no lançamento do álbum eu vi uma oportunidade de recomeçar com uma nova estética e Luzia foi um bom motivo para fazer isso. Esteticamente falando, limpar tudo e recomeçar.
INVOGA: Leonina e múltipla, você se considera uma pessoa complexa? O quanto você acha que isso favorece na hora de exercer seu lado artístico?
AM: Eu não sei se você entender de signos, mas… rs. Sou uma leonina com ascendente em virgem e na casa de peixes. Eu sou uma leonina mais low profile! Eu oscilo. Sou de fases… às vezes estou mais falante, menos falante. Às vezes quero me expor, às vezes não. Eu acho o Instagram uma ferramenta para expor seu trabalho, sua visão, mensagens. Antes só havia uma forma de se comunicar e falar com o público, agora temos autonomia pra fazer isso do seu celular. E isso tem um lado bom e um lado ruim, mas temos que saber dosar! Para mim, é tranquilo lidar com isso. Tem fases que estou mais ‘pra fora’ e outras, mais introspectiva. Sou muito autêntica.
INVOGA: E quanto aos haters? Como você se sente em relação a eles?
AM: Haters sempre vão existir. Toda vez que alguém vem com “ódio” para cima de mim ou da minha arte, eu lembro dessa frase do Baco Exu do Blues: “Enquanto você tiver limite, você não vai me entender”. Não é maldade, é uma limitação. Ela não tem visão e nem a capacidade de entender o que estou falando.
INVOGA: Quem é essa mistura que faz a Antonia enquanto artista e mulher?
AM: Eu sou um pouco de tudo! Eu sou muito livre, criativa, independente, acho que eu sigo muito meu coração nas coisas que quero fazer. Sou sensitiva, antevejo as coisas. Eu morei em muitos lugares, vivi com muitas pessoas diferentes experienciando muitas coisas desde muito nova e eu tento trazer isso pra minha arte. Sinto uma necessidade muito grande de me expressar… algo muito visceral e intenso. Tenho uma forma potente de me expressar: eu sou ‘multi’.